O cajón é um instrumento de origem afro-peruana que vem ganhando muita popularidade nos últimos anos. Compacto, ele tem se tornado o instrumento preferido dos bateristas em situações mais acústicas. Apesar disso, ainda é bastante raro o material didático específico sobre o instrumento, que possui técnicas próprias. Pensando nisso, resolvi fazer um guia em várias partes sobre o Cajón, tanto para quem está pensando em começar, quanto para aqueles que já conhecem o instrumento há mais tempo.

É incrível como nos últimos dez anos o cajón vem ganhando notabilidade no mundo da música. Se antes ele era um instrumento desconhecido, do qual muitos não sabiam sequer o nome, hoje  ele vem ganhando popularidade tanto entre os bateristas de longa data, quanto entre aqueles que se aventuram na música pela primeira vez.

Para os bateristas como eu, a descoberta do cajón é quase como a invenção da roda: se antes ficávamos chupando o dedo nas festas de apartamento, encontros no sítio e no lual na beira da praia, agora temos um companheiro fiel para essas situações. Da mesma forma, quando a o show exige um formato mais compacto, é possível dar uma pegada mais acústica e manter a qualidade do espetáculo.

Isso porque o cajón é uma bateria com as facilidades do violão. E digo isso porque o cajón com esteira (o cajón peruano, originalmente, não possui esteira na parte interna) tem o som agudo muito semelhante ao da caixa. Da mesma forma, seu som grave é bastante pronunciado e muito mais semelhante ao bumbo do que todos os seus companheiros da percussão: pense nos graves do pandeiro e do bongô, por exemplo, que apesar de possuírem um tamanho até mais compacto, são muito menos versáteis e se encaixam melhor em estilos musicais mais específicos.

Aqui em Porto Alegre, cada vez menos os bares possuem capacidade para abrigar uma banda completa, e ele tem sido muito útil para mim profissionalmente, pois é possível adaptar o show às necessidades do espaço, sem perder a qualidade.

O cajón também é suficientemente simples para quem está começando, mas atinge níveis de complexidade maior, que tornam mais fácil o aprendizado da bateria, posteriormente, sendo um ótimo instrumento de entrada, embora, é claro, não se limite a isso. Outro ponto positivo, é que ele é muito acessível, e é possível encontrar modelos em torno de R$ 150,00.

Nessa primeira parte aprenderemos os sons básicos do cajón e uma aplicação prática deles em alguns ritmos simples. Também veremos algumas dicas iniciais sobre como escolher o seu modelo.

Comprando o cajón:

 

Antes de tudo, acho importante quando você for à loja saber o que está comprando, pois nem sempre o cajón mais caro é o melhor e o mais adequado às suas necessidades. Hoje as marcas já possuem linhas especializadas, então procure nos sites dos fabricantes por um cajón feito para seu estilo musical antes mesmo de ir à loja.

Um importante elemento a se considerar também é a captação. Microfonar o cajón externamente dá um resultado muito melhor do que usar a captação interna, mas nem todo mundo tem microfones e o dinheiro para compra-los, então considere esse fator e veja o que é melhor para você. Se for tocar sem nenhum tipo de amplificação ou se já possui microfones, não vale a pena investir em modelos com captação interna que são, via de regra, mais caros.

Outro ponto é que o cajón pode ser parafusado ou colado. Os parafusados possuem algumas vantagens, como a de poder trocar a parte da frente (o “tapa”) caso ele quebre, já que alguns fabricantes já o vendem separadamente. Outra vantagem é que soltar ou apertar os parafusos pode mudar a afinação.

Apesar disso, pessoalmente, eu prefiro os cajóns com a parte da frente colada – infelizmente a minoria dos modelos – pois eles não produzem o som dos parafusos, que pode ser bastante incômodo. Outro ponto importante é que os parafusos podem, em alguns casos, machucar, soltar, ou até virem mal colocados e aumentarem o desgaste natural.

Agora vamos à sonoridade. Sem entrar na questão das madeiras – pois não sou especialista nesse assunto -, sugiro sempre o seguinte teste: com o dedo indicador faça pressão no centro do tapa (sem exageros) . Um bom cajón deve possuir um tapa mais flexível, pois boa parte do som provém da vibração da parte da frente, que se for muito grossa e dura não vai vibrar. Verifique, portanto, se o tapa é flexível e dá uma leve vergada quando pressionado com o dedo.

Por fim, sugiro um teste final: ouvir os sons grave e agudo do cajón, mas para isso, você vai precisar saber como tocá-los.

Os tipos de toque:

 

O cajón possui várias abordagens diferentes. Abaixo, apresento a minha abordagem que desenvolvi no livro “A Arte do Cajón

O cajón possui dois sons primários: o grave (bumbo), produzido golpeando a parte mais abaixo do cajón; e o agudo (caixa), produzido golpeando a parte superior. Veja o diagrama abaixo:

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Enquanto o som da caixa pode ser produzido em toda a parte superior do cajón dependendo do resultado desejado, o bumbo deve ser executado mais próximo do centro (em vermelho na imagem). Em ambos os toques, os dedos devem estar relaxados e soltos, sem tensão na mão. Outro ponto importante é a postura. Preocupe-se em abrir as penas de maneira que elas não atrapalhem as mãos – isso pode ser difícil no começo. Também procure manter uma postura ereta com as costas, isso evita dores e dá uma maior elegância ao tocar, possibilitando que o espectador veja toda a superfície do instrumento e passando uma ideia de maior domínio sobre ele. Observe minha postura na foto:

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Vejamos agora como executar cada um desses toques:

  1. O bumbo: Antes de tudo, deve-se frisar que não é necessário bater muito abaixo do cajón para produzir esse som. Além de “matar” nosso grave, o fato de nos curvarmos para tocar pode acarretar dores nas costas. Como referência, devemos posicionar nosso pulso exatamente na borda de cima do cajón. Esse golpe deve ser dado com toda a mão, sendo que ela não deve estar nem em concha, nem espalmada, mas num meio termo, e com os dedos juntos. Observe a imagem:

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2. A caixa: Produzimos esse som batendo com a ponta dos dedos na parte superior do cajón. Como referência, utilizamos a região mais ou menos a partir da segunda junta para baixo dos dedos indicador e anelar. Lembrando que o polegar não participa desse toque e que os dedos podem estar levemente afastados. Observe:

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A esses dois toques, somamos um terceiro:

3. Nota-fantasma: produzimos esse som com as falanges dos dedos batendo na mesma região da caixa. Esse som não deve ser propriamente ouvido, mas sentido. Ele possui uma série de utilidades: auxiliar na marcação do tempo, substituir o Hi-Hat da bateria com o auxílio de chocalhos, facilitar a alternância das mãos entre os dois outros sons, preencher os grooves com notas-fantasma. Em situações com o cajón microfonado esse som pode ser ouvido muito mais nitidamente, possibilitando uma série de abordagens diferentes.

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Se ficar em dúvida, assista à vídeo-aula abaixo:

 

 

Os primeiros ritmos:

 

Os ritmos abaixo são bem simples. Vamos executá-los com uma das mãos abaixo, no som grave, e a outra na parte de cima do cajón, fazendo o som agudo. Normalmente os destros deixam a mão direita abaixo e os canhotos vice-versa. Escrevi os exemplos para destros.

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O groove abaixo você já conhece. É da música We Will Rock You, do Queen, e é bem simples:

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Por fim, um exemplo um pouco mais difícil:

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Os exercícios acima são simples por um motivo: eles são para que você se acostume com os sons e as técnicas do cajón. Pratique-os devagar, procurando desenvolver os toques grave e agudo de forma definida e com um som bonito e nítido, sem se preocupar com a velocidade.

No próximo post faremos exercícios para a mão fraca, o que vai possibilitar uma abordagem mais complexa do cajón, em que as mãos se alternam em cima e embaixo usando as três notas que aprendemos. Isso vai tornar possível a construção de ritmos mais diversificados, sem que fiquemos presos à posição de uma mão em cima e outra embaixo.

Espero ter ajudado, e me coloco á disposição para quaisquer dúvidas e comentários no espaço abaixo. Lembrando que você encontra esses e outros 200 exercícios e ritmos no meu livro “A Arte do Cajón“. Abraço, bons estudos, e até o próximo post!

 

Pedro Alvez

 

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Texto publicado originalmente no Blog do Baterista.

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