Introdução:
É aí bateras? Beleza? Na última matéria apresentei alguns grooves básicos desse estilo que vem fazendo muito sucesso atualmente: o sertanejo universitário. Além disso, trabalhei com algumas questões como as características e a história do gênero e alguns fundamentos rítmicos. Se você não leu o post, clique aqui, porque nessa postagem vamos trabalhar com alguns conceitos mais avançados que servirão não apenas para incrementar nossas levadas de sertanejo, mas também para apresentar algumas figuras e coordenações que eu julgo essenciais para o baterista moderno, quais sejam:
- Uso dos níveis de dinâmica e articulação no chimbal
- Uso dos níveis de dinâmica e articulação na caixa
- Coordenação melódica
A Dinâmica:
Para quem não sabe, a dinâmica é a capacidade de mudar a intensidade com a qual estamos tocando (forte, fraco, moderado, etc.). Essa é uma capacidade que todos devemos adquirir, não apenas para aplicar entre uma música e outra, mas também para variar a intensidade dentro de uma mesma música, um refrão mais intenso que o verso, por exemplo. Também é possível – e é com isso que trabalharemos nessa aula – alternar entre as intensidades dentro de um mesmo groove, variando a força e a região onde golpeamos o instrumento, obtendo assim ritmos mais ricos e “temperados”.
É muito comum vermos bateristas que não trabalham sua dinâmica – eu mesmo fui um deles por muito tempo –, ocupados que estamos em tocar cada vez mais rápido e com maior força e precisão. No entanto, várias situações exigem que toquemos com menos velocidade e com mais leveza, e é um exercício que de tempos em tempos faço com meus alunos o de tocar em andamentos extremamente lentos, aplicando pouquíssima pegada. Pode não parecer, mas tocar em andamentos muito baixos é tão difícil quanto tocar em andamentos rápidos, experimente acompanhar o grande mestre David Garibaldi – um nome que vamos ver muito nesse post – na música “Willing To Learn” do Tower of Power.
Os níveis de dinâmica na caixa e no chimbal:
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Trabalharemos aqui com dois níveis de dinâmica no chimbal e outros dois na caixa, conforme segue:
Nota acentuada (forte) na caixa: o “rim shot”
O Rim Shot é tocado golpeando o aro da caixa com o corpo da baqueta ao mesmo tempo em que atingimos o centro da caixa com a ponta da baqueta. O Resultado é um som estalado, fruto da união dos harmônicos do aro e do casco com o som do centro da pele. O Rim Shot é uma característica marcante no reggae, por exemplo, em que desejamos obter um som semelhante ao de um timbale. Optei por representar o rim-shot com um (x) ao invés da elipse normal para dar maior destaque.
Nota não acentuada (fraca) na caixa: a nota-fantasma
A nota-fantasma ou “ghost note” é produzida liberando toda a tensão da mão e golpeando a parte central da pele com a ponta da baqueta. O lendário Clyde Stubblefield, que tocava com James Brown, foi um dos primeiros aplicar as notas-fantasma nos seus grooves, e ele mesmo desconhecia essa denominação, que ele julgava incorreta, uma vez que tocava essas notas propositadamente, não fazendo nenhum sentido para ele chamá-las de fantasma. Na verdade, a ideia da nota fantasma é que ela seja sentida, mais do que propriamente ouvida, uma vez que seu som é mais baixo que o do golpe no centro da caixa. Na prática, como explica David Garibaldi, a nota fantasma da caixa deve fundir-se com a nota não acentuada do chimbal, obtendo dessa mistura um som parecido com um chocalho.
A nota fantasma da caixa vem representada pela elipse normal envolta com os parênteses.
Nota Acentuada no Chimbal
A nota acentuada no chimbal deve ser tocada com o corpo da baqueta na borda do prato, obtendo um som mais forte vindo tanto do prato de baixo quanto do de cima. Essa nota vem representada por um sinal de Chevron sobre ela.
Nota não acentuada no chimbal:
A nota não acentuada no chimbal é tocada com a ponta da baqueta na parte superior do prato. E aparece sempre que não há o Chevron sobre ela.
Embora pareça fácil, a articulação entre todos esses toques pode ser complicada para aqueles que vêm tocando a vida inteira sem variar as intensidades, seja na caixa, no chimbal ou no prato de condução. Para quem é novo no assunto, eu recomendo fortemente o livro “Future Sounds” do mestre David Garibaldi, em que ele explica em pormenor todas essas sutilezas e dedica boa parte do livro às suas aplicações.
Aplicando a dinâmica ao sertanejo universitário:
Nos exercícios a seguir, vamos aplicar os conceitos explicados acima, tocando as notas acentuadas e não acentuadas dentro dos grooves de sertanejo. Dica: pratique os exercícios primeiro sem a dinâmica, até adquirir a coordenação, só então passe a aplicar as acentuações.
No primeiro exercício temos essa figura clássica, muito importante não apenas no sertanejo, mas também no samba, no baião, no funk, e até na cumbia. Pratique-a primeiro isoladamente, lembrando que o importante aqui é o controle e a sonoridade, não a velocidade:
Nos exercícios a seguir apresento um mesmo groove fundamental, que utiliza a figura do exercício acima e a marcação do bumbo nos tempos 1 e 2.Em cada exemplo, eu troco as notas fantasma e rim shots da caixa para obter resultados diferentes. Pratique essas levadas sempre atento à sonoridade e não à velocidade, e observe como a simples variação da dinâmica muda completamente o resultado. Mais uma vez, se sentir dificuldade, pratique primeiro sem os acentos até obter a coordenação necessária:
A coordenação melódica:
A ideia de coordenação melódica é muito simples. Normalmente, nós bateristas estamos acostumados a tocar com os membros sendo acionados ao mesmo tempo (mão direita junto com o pé direito, por exemplo). Na coordenação melódica os membros nunca se sobrepõem, formando assim uma melodia em que cada parte o corpo faz uma nota por vez. Novamente, indico o material do David Garibaldi, que é um gênio em criar grooves a partir dessa ideia. Aqui, apresento dois exemplos, sendo que no primeiro substituímos a marcação do bumbo no 1 e no 2 pela levada do arrocha. Mantive a representação da caixa normal, deixando o uso da dinâmica à critério de cada um:
É isso aí, espero ter ajudado e me coloco à disposição para solucionar quaisquer dúvidas pelas perguntas abaixo ou pelo meu e-mail: pedromalvez@yahoo.com.br. Abraço e Bons estudos!!
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Texto publicado originalmente no Blog do Baterista.
Pedro Alvez
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