Introdução:
Nesse primeiro post escolhi tratar de um tema que vem recebendo muito destaque no cenário musical nacional: o Sertanejo Universitário. Se você mora no Brasil e ligou o rádio, a tv ou o computador hoje é muito difícil que não tenha ouvido alguma música do gênero, e mesmo se está no exterior, é bem provável que tenha ouvido alguma canção também, já que esse é o estilo musical que o Brasil vem exportando atualmente junto com o funk vindo da periferia, que vem recebendo cada vez mais produção e divulgação.
É certo que ambos os estilos possuem muitos opositores, eu mesmo não sou uma pessoa que você vai encontrar ouvindo Sertanejo Universitário em casa, e tenho as minhas críticas à forma como as letras tratam as mulheres e a vida de uma forma geral, além de achar tudo muito pasteurizado. No entanto, reconheço que o ritmo é muito dançante e divertido de tocar. Outra questão importante, é que sendo o ritmo da vez, para quem é profissional e quer se estabelecer no mercado, é sempre importante conhecer e ter algum domínio da linguagem, já que isso pode ser a diferença entre pegar ou não um trabalho. Já em termos de estudo, ele abre caminhos interessantes, pois possui uma coordenação bastante própria e possibilita o uso de acentuações e a introdução de notas-fantasma, fortalecendo assim o domínio da dinâmica nossa de cada dia. Além disso, ele carrega elementos da linguagem do forró e do axé, e é um ritmo binário, tudo isso faz com que ele incremente nosso vocabulário e mereça ser estudado.
Nessa primeira matéria trago algumas levadas básicas do Sertanejo Universitário para a bateria, e ao final deixo uma opção para o cajón – sabe como é, sempre é bom. Na próxima parte vou introduzir conceitos mais avançados, como variações no chimbal, acentuações e notas-fantasma.
Conhecendo o estilo:
Antes de sair tocando, é importante saber do que estamos falando quando usamos o termo Sertanejo Universitário. Para muitos, ele representa a terceira geração ou ramificação do Sertanejo de Raiz, ou música caipira, proveniente do interior de Goiás e do Mato Grosso, que logo deu origem ao Sertanejo Romântico, muito popular nas décadas de 1980 e 1990 nas vozes de Xitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano e assemelhados.
Um ponto em comum com essa raiz, por exemplo, é o fato de ser tocado por duplas, normalmente masculinas, mas com algum espaço para mulheres como Maiara e Maraisa.
O Sertanejo Universitário, no entanto, é fruto de uma urbanização desses estilos, decorrente principalmente do boom universitário dos últimos anos, que levou jovens do interior aos centros urbanos e, com eles, sua cultura. O ritmo é, portanto, um misto desses dois mundos. Repare, por exemplo, nas roupas utilizadas pelos cantores, normalmente a camisa xadrez, mas já sem o chapéu e a bota, que não combinam com a cidade. Ritmicamente falando, o batidão do vaneirão é mantido, mas as letras já não falam mais do campo, e sim da balada, da bebida e da mulherada. A guitarra toma o lugar da viola, a sanfona dá lugar aos sintetizadores, e os cavalos somem para serem substituídos pelos carrões como o Camaro amarelo.
O Ritmo:
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Na Bateria:
O exemplo abaixo é o groove que eu considero fundamental: o “batidão”. Dá para se virar em boa parte das músicas sabendo só ele, que consiste em manter a marcação do bumbo nos tempos 1 e 2, enquanto o chimbal faz as colcheias. O segredo para a dominar esses grooves é “esquecer” o bumbo e deixar ele no piloto automático, enquanto as mãos fazem variações, por isso, é importante praticar esse primeiro exemplo até que ele se torne uma segunda pele:
Agora, passamos a aplicar variações a esse padrão básico por meio de aberturas de chimbal e variações na figura da caixa. Aprenda a identificar quando a música pede cada uma dessas variações e lembre-se: nunca suje a música!
Agora, introduzimos a marcação clássica do arrocha no bumbo. Pessoalmente prefiro a marcação dos exemplos acima, pois acho que ela dá uma fluidez maior à música, tornando-a mais dançante, mas é importante saber as duas:
Todas os exemplos feitos com a marcação do bumbo no 1 e no 2 podem ser feitos com a marcação do bumbo do arrocha. Por exemplo:
Volte aos exercícios anteriores e substitua a marcação no 1 e 2 pela do arrocha. Pratique e saiba fazer todas das duas maneiras.
No Cajón
Essa é uma levada “coringa”, para quem precisa se virar com o cajón em alguma situação. Basta usar uma das mãos embaixo, fazendo o som grave (normalmente a direita para os destros), e a outra em cima, fazendo o som agudo, e assim temos o batidão no cajón:
Quem me conhece sabe que eu defendo que os bateristas de hoje em dia tem que saber tocar dois instrumentos: bateria e cajón. Isso devido a uma série de questões, mas que são tema para um próximo post, quem sabe com mais alguns exemplos.
É isso aí, espero que esse material seja útil e não se esqueça que esse conteúdo é interativo, e eu e a equipe do Blog do Baterista sempre ficaremos felizes em responder nos comentários.
Grande abraço, bons estudos e muito amor pela música acima de tudo! Até a próxima!
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Texto publicado originalmente no Blog do Baterista.
Pedro Alvez
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