Nesse post em três partes vou apresentar os fundamentos de um estilo musical que às vezes é até subvalorizado na bateria: o Reggae. Em cada uma das partes você irá conhecer uma das três principais variantes do estilo: respectivamente, one drop, steppers e rockers. Nessa primeira parte você também confere alguns fundamentos importantes do estilo que vão facilitar as próximas lições, além de melhorar a sua execução e a sua sonoridade. Por fim, os artigos sempre trazem uma indicação de um baterista e de uma ou mais músicas tocadas naquela variante e você ainda pode baixar o pdf no final da lição.
A palavra Reggae é comumente usada para designar todos os ritmos jamaicanos como o ska, o burru, o jamaican boogie, o rocksteady e o próprio reggae. Na verdade, cada um desses estilos tem suas próprias características (que não iremos trabalhar aqui), mas também tem suas semelhanças entre si.
Todos eles são influenciados diretamente pela música Nyabinghi (pronuncia-se “naiabingui”), que é um ritmo tocado em rituais da cultura rastafári usando tambores chamados akete, do qual existem três variantes: o baandu (bumbo), o funde e o repeater. Pelas palavras é possível perceber que o Nyabinghi é uma marca da cultura africana introduzida na América através do fluxo escravo, e aqui incorporada para formar outros estilos musicais, uma história com a qual nós brasileiros estamos bastante familiarizados, e que também é a mesma da origem do Blues nos Estados Unidos.
No Reggae, assim como em quase todos os outros estilos jamaicanos aqui mencionados, a ênfase está no upbeat, uma peculiaridade que deve ser compreendida afim de que não descaracterizemos o ritmo. Isso é essencial e não é tão simples, uma vez que a maioria dos ritmos populares tem sua acentuação no downbeat. Essa acentuação no tempo fraco recebe o nome de Skank, e deve ser percebida facilmente pela linha da guitarra. Na forma escrita, portanto, os acentos do Hi-Hat estarão no “E”, se o ritmo estiver escrito em colcheias, ou no 2 e no 4, se estiver escrito em semínimas. Por motivos didáticos, nos ritmos abaixo coloquei os dois exemplos, embora considere o segundo o mais correto, por manter a marcação do bumbo e do sidestick no tempo 3, e não no 2 e no 4 como é comum no rock.
O reggae é tocado mais lentamente que o ska, mas mais rápido do que o rocksteady, e possui três variantes principais: o one drop, o steppers e o rockers. No one drop há um abandono (o “drop”) do bumbo no tempo um, tocando-se o sidestick na caixa (representado pelo “x”) junto com o bumbo a cada três notas subsequentes. Embora simples, o ritmo pode ter diversas variações, como veremos, e a ideia de deixar o primeiro tempo sem o bumbo pode ser um pouco difícil, já que é uma coordenação incomum. Da mesma forma, tocar a caixa e o bumbo ao mesmo tempo sem flam pode exigir alguma prática – tocar esses dois instrumentos ao mesmo tempo é uma coordenação que normalmente eliminamos quando começamos a tocar bateria para depois readquirir.
Antes de partir para os grooves, é importante observar alguns elementos que podem modificar muito sua sonoridade. O Primeiro deles é a afinação da bateria. Nos anos 60, nos primórdios do estilo, por influência do jazz, e assim como o ska e o rocksteady, o reggae era tocado com uma afinação alta em todas as peças da bateria, deixando as peles bem apertadas. Além disso, os bateristas costumavam golpear a pele mais próxima do aro, não apenas na caixa, mas também nos tambores, o que faz com que a pele ressoe mais e produza mais agudos. É esse tipo de afinação que ouvimos nas músicas do Skatalites, tocadas por Lloyd Knibb e no reggae do Toots and the Maytals.
Com o tempo, alguns bateristas passaram a experimentar outras afinações em alguns desmembramentos do reggae, como o DJ Style. Algumas gravações chegaram a ser produzidas utilizando camisetas e toalhas amarradas aos tambores e à caixa, produzindo um som mais morto, com pouquíssimos harmônicos. Outra opção é usar fitas coladas aos tambores, como é possível ver na imagem abaixo em que vemos o lendário Leroy “Horsemouth” Wallace.
Isso nos deixa, portanto, com duas possibilidades: uma afinação estridente, cheia de harmônicos; e uma mais morta. É possível ainda misturar essas duas abordagens, como Carlton “Carly” Barrett fazia nas gravações com Bob Marley, em que tocava com a caixa bem estridente e os tambores bem controlados.
Muitos bateristas utilizam duas caixas, com uma delas afinada mais alta, às vezes até com a esteira desligada de maneira a simular um timbale. O rim shot bem estridente é muito comum no reggae, principalmente nos espaços deixados pelos outros instrumentos em que podemos ouvir viradas feitas na caixa.
Outro elemento interessante é usar a baqueta que fica na caixa ao contrário (veja a foto acima), para obter sons mais sólidos tanto do sidestick, quanto do rim shot, e é interessante notar que o prato de condução não é muito utilizado – embora isso não seja proibido. Os pratos de ataque, por sua vez, são normalmente pequenos, com pouco decay.
Por fim, é importante lembrar que boa parte das músicas possui uma acentuação no backbeat com o bumbo fortalecendo o sidestick. Por isso, o bumbo deve ser afinado de maneira sólida, pesada, e com pouco sustain (som curto).
Os grooves abaixo podem ser tocados variando os acentos do Hi-Hat ou não. A primeira forma deixa o groove mais swingado, e é a que eu prefiro. Pratique das duas maneiras e veja qual você gosta mais. Toque os acentos com o corpo da baqueta quase inteiro sobre toda a superfície superior do prato, e os não acentos apenas com a ponta.
Outra possibilidade para dar mais swing ao ritmo é usar os padrões tercinados semelhantes ao shuffle – uma influência importante no reggae através dos ritmos anteriores do jamaican boogie e do rocksteady. Observe que daqui em diante os ritmos foram escritos com base em semínimas, resultando no sidestick e bumbo no tempo 3, e não mais no 1 e no 4, como em todos os anteriores.
Tercinar os grooves, além de criar mais swing, possibilita a criação de padrões bem mais complexos, como os a seguir:
Na vídeo aula abaixo demonstro 3 padrões fáceis para você que está começando:
Se você quiser aprender em vídeo todos os exemplos desse post, aqui vai o link para você adquirir a vídeo aula com o PDF:
Aprenda todos os ritmos desse post – Vídeo aula + PDF
É isso aí, resta apenas indicar o som de Carlton “Carly” Barrett, que para muitos é o inventor do one drop.
No Álbum Legend você pode ouvir uma série de músicas gravadas com o uso do one drop:
- No Woman, No Cry.
- Three Little Birds
- Get up, Stand Up.
- Waiting in Vain
- Stir It Up
- One Love
- I Shot The Sheriff
Quando procurei me aprofundar nesse assunto há alguns anos atrás, tive dificuldade em encontrar material didático de boa qualidade. Dessa forma, espero que tenha ajudado quem quer se aventurar nesse ritmo interessantíssimo. Fiquem ligados para os próximos dois artigos da série e não esqueçam de baixar o pdf abaixo.
Download do PDF:
https://drive.google.com/open?id=0BxlZtRfiVcHwYnpTTHlmQkZIX3c
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Abraços,
Pedro Alvez.
22 de agosto de 2017 at 04:34
Muito bom!!! Já saiu a parte 2 e a 3???
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23 de agosto de 2017 at 16:08
Oi, lucas. Muito obrigado. Casualmente, a parte 2 está na evisão e sai na terça dia 28
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3 de outubro de 2017 at 00:59
Oi, Lucas, só para te avisar que já está no ar a parte 2, com um pouco de atraso, mas está lá!
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22 de janeiro de 2018 at 17:32
Muito bom man, material de grande conteúdo sobre a música reggae! Sempre bom espalhar este tipo de conhecimento! Parabens! Jah abençoe!!!
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