Pelo menos dois em cada dez bateristas já teve esse problema: “Eu gosto de bateria, mas meu vizinho não”. Se você está lendo isso, talvez tenha tido esse mesmo problema. É uma coisa que meus alunos sempre me perguntam, especialmente aqueles que estão começando e que moram em um apartamento. Mas e aí, como resolver esse problema? Ou, para quem está começando, como evitar esse problema?

O primeiro erro é fazer como muitas pessoas, bateristas ou não,  e que pensam que uma bateria é algo barulhento por si só e que, portanto, não deve ser tocado. Ora, em primeiro lugar, de um ponto de vista legal, não há diferença entre um barulho produzido por uma furadeira e uma bateria, pois a lei estabelece – e isso varia de cidade para cidade – um limite em decibéis para o barulho produzido, seja qual for a fonte. Pensando assim, um baterista, um violonista, alguém que goste de ouvir música alto, e alguém usando um liquidificador, estão sujeitos à mesma lei. Dessa maneira, nada proíbe, por exemplo, uma pessoa de tocar bateria em seu apartamento, a não ser que ela esteja excedendo o número de decibéis permitidos em lei.

Como baterista, posso dizer que a bateria é alvo de preconceito. Pense, por exemplo, em quanto barulho os carros passando na rua – especialmente se você mora em uma avenida – produzem. Ou então, no prédio que está sendo construído logo ao seu lado. Mais que isso, você que mora próximo a uma empresa com sistema de ar condicionado central, como não se sente aliviado quando o turno termina e o sistema é desligado? Agora mesmo, enquanto estou escrevendo esse post, aviões passam por cima da minha casa fazendo um barulho enorme!

Mas como eu estava dizendo, não é proibido toca bateria em um apartamento. A grande diferença é que se você estiver em sua casa, dificilmente um vizinho incomodado irá procurar as vias legais para processá-lo (a não ser em casos de inimizade muito extremos). Enquanto aqueles que moram em apartamento estão sujeitos à multa administrativa diretamente pelo condomínio – e para multá-lo, o condomínio não irá chamar o órgão responsável para medir o número de decibéis que você está produzindo, irá apenas adverti-lo, e depois multá-lo. O grande problema é que mesmo assim, muitas vezes, com um decibelímetro no ambiente em que tocamos, a bateria acaba por realmente ultrapassar o limite permitido. Então, o que fazer?

A resposta mais comum seria apontar as seguintes soluções:

  • Faça um isolamento acústico
  • Compre uma bateria eletrônica
  • Use peles silenciosas
  • Compre uma bateria de estudos

Ora, todas essas soluções funcionam, mas também podem não ser o que você precisa. Um isolamento acústico bem feito é muito caro, e em apartamentos nem sempre resolve o problema – embora você passe a estar dentro da lei em termos de limite de decibéis, pode ser que seja multado arbitrariamente, simplesmente porque seu vizinho não quer ouvir nenhum barulho da sua bateria. Obviamente, nem todo mundo está disposto a recorrer às vias legais para retirar as multas, embora isso seja possível. Veja esse caso http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1482143-isolamento-acustico-custa-ate-r-70-mil.

Uma bateria eletrônica resolve o problema, pois podemos tocar de fone. No entanto, nem sempre moramos no térreo, e o barulho do pedal pode incomodar o vizinho de baixo. Além disso, uma boa bateria eletrônica, que simule uma bateria acústica satisfatoriamente pode custar muito caro para a maioria dos bolsos.

E tanto a bateria de estudos quanto as peles silenciosas podem quebrar um galho, mas não dão aquilo que precisamos em termos de sonoridade e dinâmica, pois embora possamos estudar a técnica de forma acurada, não sabemos exatamente o som que produziríamos numa bateria acústica.

Então, como alguém que já morou em apartamento, não só praticando, mas também ministrando aulas sem nunca ter problemas com vizinhos, sugiro as seguintes alternativas:

  • Use o bom-senso: você pratica pedal duplo 4 horas por dia? Talvez seja a hora de alternar seus estudos no pad e no pedal, e reduzir os estudos mais barulhentos como viradas, pedal duplo e performances. Já pratiquei em bateria com peles “silent” até que uma música ficasse boa, depois trocava para as normais só para ver como ela soava por algumas horas. Ás vezes o problema não está na bateria, mas no tempo em que você está tocando.
  • Saiba o horário de seus vizinhos: Uma vez minha vizinha sentiu-se incomodada com a minha bateria. Respondi que estava dando aulas e perguntei a ela se havia algum horário em que eu podia tocar sem incomodá-la. Ela foi gentil e entramos em comum acordo. Nunca mais tive reclamações, pois tocava e dava aulas no horário em que ela não estava e estabeleci um limite de horário para as aulas. Saber a rotina dos seus é uma grande alternativa. Se ninguém estiver ouvindo, não haverá reclamações, tenha certeza. Em relação a isso, posso aconselhar também que você…
  • Entre em comum acordo: Antes de criar uma inimizade, tente estabelecer um acordo com seu vizinho. Lembre-se que ele também tem seus problemas, e que nem sempre ele é só um chato tentando afastá-lo do instrumento que você ama – embora esse possa ser o caso. Explique para ele que você precisa praticar e tente, antes de mais nada, ter um diálogo civilizado em que os dois cedam às necessidades do outro.
  • Evite tocar nos finais de semana: Essa é uma dica muito difícil de conseguir seguir. Muitos de nós, por conta do trabalho, só podemos contar com o final de semana para tocar. No entanto, se possível, eu encorajo você a tentar seguir esse passo. Lembre-se que no final de semana todos estão em casa, às vezes dormindo, e é aí que podemos ter problemas. Se você tiver um horário um pouco mais flexível, tente fazer isso.
  • More no térreo: O barulho que incomoda muitas vezes vem do fato de pisarmos no pedal, e não da própria bateria. Meu amigo, que não é baterista, teve problemas no seu prédio porque batia os pés ouvindo música. O barulho pode ser isolado com as paredes, mas a vibração produzida nem tanto. Tenha isso em mente. Morar no térreo pode reduzir esse tipo de problema.

Mas é importante também salientar: nada disso vai adiantar se você tiver um vizinho chato e intransigente. Se ele for irredutível, não importa se você faz muito ou pouco barulho, se você toca cedo ou tarde, ele vai reclamar igual. Infelizmente, muitas pessoas gostam de ouvir música, mas não compreendem que nós músicos precisamos praticar diariamente. Por isso, lembre-se que tocar bateria não é um crime e é um direito seu, e as leis quanto a isso são bastante complicadas: se por um lado deve-se limitar o barulho produzido, também não é possível restringir o uso de uma pessoa sobre seu próprio imóvel.

Essas dicas são apenas alguns apontamentos para ajudar você a ter uma boa relação com seus vizinhos – ou seja, em hipótese alguma desista ou deixe de tocar. Espero que o que escrevi possa ajudar aqueles que têm esse tipo de problemas e que sabem como é difícil e desagradável pensar que a atividade que realmente amamos é um problema para os demais.Também espero que aqueles que estão em dúvida se devem ou não começar a tocar bateria e percussão se sintam contemplados com o post e decidam pelo certo: comece hoje mesmo!!

Abraços,

Pedro Alvez

 

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